quinta-feira, 15 de agosto de 2019

O QUE PODEMOS ABORDAR SOBRE A FREQUÊNCIA DA PASSADA E A CADÊNCIA? CONSEQUÊNCIAS SOBRE O IMPACTO, A INFLUÊNCIA DA EXPERIÊNCIA DO CORREDOR E DA FADIGA.

Ultimamente vinhamos postando sobre a questão do tipo de pisada, mas hoje vamos interromper esta sequencia devido à leitura de um interessante artigo  sobre a temática da frequência de passada. 

Antes de apresentar o recente artigo gostariamos de esclarecer a questão sobre uma dúvida sempre presente entre os corredores iniciantes. O que é melhor: uma passada maior e, consequentemente menos passos, ou uma passada menor e mais passos? Antes de responder, gostariamos de conceituar o comprimento e a frequência de passada.  

Normalmente um indivíduo que corre uma prova de 10 km o faz com 600 a 750 passos por km, ou seja, em uma prova de 10 km seriam de 6 a 7,5 mil passos. O tempo desta corrida dependerá da velocidade de cada passada, onde esta  é composta pelo seu comprimento e pelo número de vezes que ela ocorre por minuto, respectivamente, comprimento de passada e frequência de passada. 

Cada uma destas variáveis tem um comportamento para uma dada velocidade alcançada por cada corredor. Veja na figura abaixo o comportamento de cada variável, percebendo o quanto cada uma contribui para o aumento da velocidade. 

Figura 1- Comportamento da frequência e do comprimento da passada com o aumento da velocidade da corrida. (modificado de Dorn et al, 2012)

Entendendo o gráfico percebe-se que a velocidades mais baixas, o aumento da mesma ocorre por uma maior contribuição do comprimento da passada e menos pela frequência da mesma. Em velocidades mais elevadas, fica inviável para o organismo aumentar a passada e ainda continuar correndo, por isso, aumenta-se muito mais a frequência de passadas que o seu comprimento.  Como isso acontece? 

Um complexo trabalho de Dorn et al (2012) demonstrou a possibilidade do aumento do comprimento da passada ocorrer pela ação dos músculos flexores plantares (Gastrocnêmios e Sóleos), sugerindo que a ação destes músculos podem limitar a velocidade de corrida. Por outro lado, os mesmos autores demonstraram, através de uma técnica de modelagem matemática de estudo das forças a que somos submetidos, o aumento da frequência de passada pelo aumento da força dos músculos responsáveis pela movimentação do quadril, como Iliopsoas, Glúteo Máximo e Isquiotibiais.  

Para falarmos de uma outra variável relacionada à frequência de passadas podemos também abordá-la através de palavra cadência, mas esta relaciona-se com o número de passos por minuto e não de passadas. 

Apresentaremos a vocês estudos que possam responder a questão acima realizada, e constante na cabeça dos corredores que estão buscando um pouco mais de performance tentando minimizar a ocorrência de lesões: qual estratégia é a melhor, aumentar a frequência de passos, ou passadas, ou o seu comprimento?

Um estudo demonstrou o efeito da alteração da cadência na energia absorvida pelo quadril, joelho e tornozelos. Neste estudo, Heiderscheit e colaboradores (2011) solicitaram aos corredores o aumento e diminuição da cadência em 5 e 10%. A partir daí fizeram uma série de medidas nas forças a que os corredores estavam submetidos e ao posicionamento dos membros inferiores ao alterarem a cadência. 

Figura 2- Diferenças obtidas na Oscilação do COM, Distância do calcanhar à projeção do COM e da inclinação do pé comparando as condições cadência preferida, 10% maior (+10%) e 10% menor(-10%). 
Como resultado, o aumento da cadência diminuiu o comprimento do passo, a oscilação vertical do COM e fez com que o calcanhar fosse posicionado mais próximo da projeção vertical do COM (conforme demonstrado na figura 1). Isso provocou uma diminuição do impacto recebido pelos membros inferiores. Mudanças também aconteceram na inclinação do pé e na duração do passo quando a cadência foi aumentada em 10%. 

A energia absorvida pelo joelho, com esta cadência (+10%), também diminuiu em torno de 34% e, com o aumento da cadência em 5%, a diminuição foi de 20%, e esta diminuição também aconteceu no quadril, mas em percentuais menos expressivos.  Com a diminuição da cadência em 10% também houve a diminuição da energia absorvida no joelho, mas quadril e tornozelo tiveram a energia absorvida aumentada. 

Outro estudo demonstrou a cadência sendo aumentada em 5% pela fadiga. Como consequência houve uma diminuição da sobrecarga plantar na região do calcanhar, assim como o tempo de contato do pé com o solo comparado à condição sem fadiga (Wilson e Kernozek, 1999). 



E finalmente, o interessante estudo recém publicado de Agresta et al (2019), demonstrou que alterações de cadência para menores que a preferida foram suficientes para alterar a mecânica, mas não o tempo de contato com o solo, em todos os corredores. Estas alterações mecânicas aliadas com maior carga nos tecidos, induzida por uma cadência menor que a preferida, assim como, a inabilidade de retornar eficientemente à condição de cadência usual podem ser significantes potencializadores do aumento de lesões. 

Além disso, corredores com mais de 10 anos de experiência apresentaram um menor tempo de retorno à cadência preferida demonstrando maior capacidade de readaptação.  Isso acontece devido a redução na atividade muscular e, consequentemente, na fadiga e cansaço muscular. Isso é importante, pois pode ajudar a explicar o porque uma maior tempo de prática da corrida torna o corredor menos suscetível a lesões. 

Os autores acreditam que os corredores priorizam a regulação do tempo de contato com o solo antes da regularização da cadência. O objetivo disto, nos mais experientes, seria melhorar a condição fisiológica, mais especificamente, um menor gasto energético sendo essa a principal motivação durante a corrida.  Assim, vemos a influência destas variáveis mecânicas (tempo de contato e cadência) na economia de corrida, algo abordado em um dos nosso primeiro posts ( ENTENDENDO O CONCEITO DE ECONOMIA DE CORRIDA ) 


Referências: 
Dorn, Tim W., Anthony G. Schache, and Marcus G. Pandy. "Muscular strategy shift in human running: dependence of running speed on hip and ankle muscle performance." Journal of Experimental Biology 215.11 (2012): 1944-1956.

Heiderscheit, Bryan C., et al. "Effects of step rate manipulation on joint mechanics during running." Medicine and science in sports and exercise 43.2 (2011): 296.

Willson, J. D., and T Kernozek, T. D.. "Plantar loading and cadence alterations with fatigue." Medicine and science in sports and exercise 31.12 (1999): 1828-1833.

Agresta, Cristine E., et al. "Years of running experience influences stride-to-stride fluctuations and adaptive response during step frequency perturbations in healthy distance runners." Gait & posture 70 (2019): 376-382.





  


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