segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

VOCÊ SE CONSIDERA UM CORREDOR DE PERFORMANCE OU RECREACIONAL?

      Como você se classifica, como um corredor de performance ou corredor recreacional? Quais parâmetros você leva em consideração para se classificar? 

      Muitas vezes é difícil obter este tipo de resposta, pois como já temos demonstrado em nossos posts, a complexidade deste mundo da corrida é elevada. Aqui neste espaço  consideramos os detalhes de performance ligados somente à aspectos da fisiologia e biomecânica, sem considerar outras áreas, portanto percebe-se que muitos pontos devem ser levados em consideração, além dos abordados neste blog. 

      Mas como gostamos de analisar a corrida mais à fundo buscando suas minucias para não apresentar a mesmice sobre a corrida, trazemos um artigo de Clermont e colaboradores (2018) cujo o objetivo foi classificar corredores e corredoras através de dados obtidos por equipamentos vestíveis (wearable technology) denominados de acelerômetros. Estes equipamentos, estão disponíveis em nossos celulares, computadores, tablets, mas também em alguns equipamentos direcionados ao publico da corrida. Eles podem nos oferecer uma série de parâmetros, e são estes a ser considerados para a classificação dos corredores(as) neste trabalho a ser apresentado. A grande vantagem é que estes parâmetros podem ser obtidos no mundo real, ou seja, no ambiente de treino e competição. 



        Em postagens anteriores já demonstramos o quanto a variável Centro de Massa (CM) é importante para a análise da técnica da corrida através da observação da Oscilação Vertical (A FORMA COMO SE CORRE (TÉCNICA) É TÃO IMPORTANTE PARA A ECONOMIA DE CORRIDA E A PERFORMANCE?  QUALQUER UM PODE CORRER COMO OS MARATONISTAS DE ALTA PERFORMANCE?) e aqui ela será novamente algo a ser considerado, mas agora através de medidas por equipamentos mais simples (acelerômetros). 

       Primeiramente 25 homens e 16 mulheres foram classificados  como competitivos ou recreacionais levando-se em consideração a idade, sexo e performance na corrida através de uma calculadora da USA Track and Field. Esta classificação se baseia no recorde mundial para a distância, sendo uma razão entre o tempo do atleta e o recorde existente para o sexo e faixa etária, tendo como dado final uma porcentagem. Aqui os autores classificaram como corredores competitivos (CC) os indivíduos com índice superior a 60% e como recreacional (CR) abaixo deste índice. 

Tabela 1 - Algumas características dos(as) corredores(as)
        Estes corredores(as) foram analisados em 5 minutos de corrida em esteira, em velocidade auto selecionada, com o acelerômetro fixado entre L3 e L5, através de cinto elásticos para não deixar balançá-lo durante a corrida. Um total de 24 variáveis foram obtidas do acelerômetro: Coeficientes de variação (desvio padrão / média x 100%) para o passo e passada. Regularidade, simetria e o pico de aceleração das ondas do acelerômetro nas direções mediolateral, vertical e anteroposterior. 



         Das 24 variáveis estudadas em ambos os sexos, 12 delas foram o suficiente para classificar os corredores entre competidores e recreacionais com 82,63% de acurácia. Já para as mulheres somente 10 variáveis foram necessárias para uma acurácia de 80,4%. Isto destaca a importância de classificação do corredor baseado na performance e treinamento para melhor refletir as diferenças cinemáticas entre homens e mulheres. 

       Corredores(as) competitivos demonstram mais consistência nos seus padrões de corrida em termos de regularidade e variabilidade. Parâmetros relacionados à simetria e ao pico de aceleração não foram tão consistentes para identificar diferenças entre competidores e recreacionais. 



         Para os corredores, a  razão para estes resultados foi justificada, através da citação de outros estudos, onde a maior regularidade na direção anteroposterior pode estar associada com mais consistência na desaceleração e aceleração do CM durante as fases de frenagem e propulsão, respectivamente, e isso pode ser exemplificado através de melhor economia de corrida em um perfil de corredor de elite. Os autores ainda destacam uma padrão mais suave de corrida nos corredores competitivos, sendo este um padrão mais seguro pela diminuição do impacto total durante a fase de frenagem de cada passo, e é claro, pela menor indução de fadiga durante a corrida. 

          Uma maior consistência no padrão de movimentos na direção mediolateral pode ser decorrente da melhora no equilíbrio geral e do tronco, correspondendo com uma redução da variabilidade na movimentação dos membros inferiores nesta direção e um padrão de movimento mais eficiente. 

       Caracterizando o corredor recreacional por uma maior variabilidade na direção mediolateral e menor regularidade na anteroposterior para a movimentação do CM tem sido associado a um padrão de corrida "de risco". Isso explicaria porque mais corredores recreacionais tem demonstrado mais lesões durante o acompanhamento durante um ano, comparado a corredores competitivos, encontrado em outro estudo citado pelos autores. 


         Já as corredoras tiveram como característica as variáveis relacionadas à regularidade e variabilidade, mas nas direções vertical e anteroposterior, respectivamente. Corredoras competitivas demonstraram maior regularidade na direção vertical e menor variabilidade na direção anteroposterior. 

        Para melhor entendimento da aplicação da coleta de dados através  de acelerômetros os autores destacam, através da citação de outros estudos, se um corredor recreacional começa a apresentar uma padrão de corrida semelhante ao corredor competitivo, este é um indicativo que as adaptações ao treinamento foram benéficas, levando a uma melhor performance na corrida e potencialmente diminuindo o risco de lesões. 

       Por outro lado, se um corredor competitivo começa a apresentar uma padrão de corrida semelhante ao corredor recreacional, isto pode ser um preditor de decréscimo de performance e aumento do risco de lesões, principalmente em joelho ou quadril. 

         Portanto é de vital importância acompanhar a sua forma de corrida para saber em que momento seu treinamento pode evoluir para um patamar superior em termos de busca por performance, ou terá que ser reduzido para poder voltar a um padrão mais eficiente, utilizando para isso os acelerômetros. 

 Referências Bibliográficas: 

Christian A. Clermont, Lauren C. Benson, Sean T. Osis, Dylan Kobsar & Reed Ferber (2018): Running patterns for male and female competitive and recreational runners based on accelerometer data. Journal of Sports Sciences.


segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

ALGUNS FATORES BIOMECÂNICOS NECESSÁRIOS PARA A QUEBRA DAS 2 HORAS NA MARATONA

        Na tentativa de explicar como alguns aspectos biomecânicos da corrida podem influenciar na melhora da performance (PC) e da Economia de Corrida (EC), buscamos um artigo de Hookgamer e colaboradores (2017), descrevendo quais as possíveis condições para se fazer uma maratona sub 2h, tendo-se como base o recorde da época da publicação do artigo, 2h02min57seg, do atleta Denis Kimetto, de 2014. 


           Os autores, citando outros estudos, destacam que um corredor para quebrar a barreira das 2h na maratona terá como características fisiológicas um consumo máximo de oxigênio (VO2max) de 90 mlO2 /kg.min, outra seria um consumo máximo de O2 de 84 mlO2/kg.min e também um limiar de lactato a 85% do VO2 max, além de um extraordinária economia de corrida de 181 mlO2/kg.km. 

          Os autores citam modelos de outros pesquisadores destacando variáveis importantes como o próprio VO2max, a máxima fração sustentável do VO2max por toda a corrida e o custo metabólico por quilômetro. Outro modelo propõem o mesmo VO2max, o limiar de lactato e a EC, para que o sonho da maratona SUB 2h, em prova, possa ser realizado. 

          Para a realização de tal feito há a necessidade de uma velocidade média de 21,1 km/h com o pace de 2' 51'' / km, uma velocidade 2,5% mais rápida que o recorde de Kimetto e 1,4% mais rápido que o recorde atual de Eliud Kipchoge, na maratona de Berlim, em 2018. Somente lembrando que neste ano, no evento Ineos 1:59, em Viena, no mês de outubro, a barreira das 2 h foi quebrada, mas por não ser uma prova de maratona oficial, não foi considerado o recorde para a distância desta prova. 



        Mas quando se corre ao ar livre, existe a variável ambiente que tem uma interferência muito grande onde o custo metabólico da corrida sofre a influência da resistência do ar nas velocidades aqui destacadas. Os autores citam outros trabalhos destacando a falta de linearidade entre velocidade e consumo de Oxigênio, ou seja, para melhorar a velocidade em 2,5% os autores citam pesquisas destacando uma necessidade de economia de corrida da ordem de 2,7 a 2,9%. 

        Mas para alcançar esta economia da ordem de quase 3% na eficiência do gasto de energia na corrida, há a necessidade de entendimento de como se divide o gasto energético do corredor. Sendo assim, os autores destacam a divisão do consumo de Oxigênio durante a corrida da seguinte forma: 
                - 80% ocorre por tarefas como suporte do peso corporal e propulsão;
                - 11% à respiração, trabalho cardíaco e forças de frenagem;  
                - 7% para o balanço dos membros inferiores, após a propulsão; 
                - 2% para o balanço lateral do tronco. 

           Considerando os fatores destacados acima, pode-se considerar que um meio mais fácil seria a redução da massa corporal dos corredores. Mas o grande problema é os já baixos massa corporal e percentual de gordura de corredores de elite. Esta condição impede de se alterar este importante parâmetro na busca por uma corrida mais eficiente. Mostra-se a ocorrência de alteração deste parâmetro ao acompanhar a relação massa e estatura (Índice de Massa Corpórea - BMI) dos campeões olímpicos da maratonas dos Jogos Olímpicos da era moderna, conforme visto no gráfico abaixo. 

Gráfico 1- Índice de Massa Corpórea dos campeões masculinos da Maratona Olímpica. disponível em: https://www.topendsports.com/events/summer/science/athletics-marathon.htm

            Em relação à propulsão, a uma velocidade de 5,86 m/s (21,1 km/h), a resistência do ar é de 9,2 N gerando um custo de 4,7 a 5,5 ml O2 /kg.min. Mas em um ambiente aberto isso é bem difícil de evitar. A saída é a corrida com proteção, ou atrás de outro ou outros corredor(es) como feito no INEOS (figura abaixo). Os autores citaram um trabalho demonstrando uma redução de 93% na resistência do ar quando se corre a 1 metro atrás de um único corredor, provocando uma redução do VO2 submáximo em 6,5%. Talvez este tenha sido um dos principais fatores no evento INEOS 1:59, pois a redução da resistência do ar em 36% pode melhorar a economia de corrida em 2 ml O2/kg.min, economizando os 2,7% necessários para facilitar o sucesso nos sub 2h em um atleta que corre a maratona em 2h03min. 


             Outro fator relacionado à maratona Sub 2h, é o balanço dos membros inferiores após a propulsão, ou, todo o tempo após a propulsão até o toque deste mesmo pé ao solo.  O acréscimo de massa nas regiões distais dos membros inferiores, como tênis e massa muscular, proporciona um aumento do custo metabólico. Sendo assim os pesquisadores acreditam que a anatomia do africanos com tíbias mais finas e gastrocnêmios altos e longos tendões possa auxiliar no menor peso das extremidades. 

           Outra fonte de massa extra nos membros inferiores são os calçados utilizados. A redução da cada 100g dos tênis provoca uma diminuição de quase 1% do consumo energético dos corredores para velocidades acima de 3,5 m/s (12,6 km/h). Mas, mesmo assim, com os materiais utilizados nos calçados Vaporfly no evento Breaking 2 (Hoogkamer e colaboradores, 2017 e Barnes e colaboradores, 2019) e o Alphafly utilizados no evento Ineos 1:59, utilizados por Kipchoge, favoreceram a economia de corrida prometendo uma atenuação do gasto da ordem de 4% em média. 

             Ainda sem entrar em questões cinéticas e cinemáticas, neste artigo os autores destacaram fatores biomecânicos externos como o ambiente e a massa dos membros inferiores, assim como outro fator inerente à própria anatomia do corredor. Obviamente, que demais fatores são importantes nesta busca pela quebra desta barreira das 2 horas para a maratona, mas não foram destacados aqui. 

             Para nós, "meros mortais" entende-se que os fatores aqui destacados pode ter algum significado deste que consigamos correr a velocidades relativamente maiores ao ao nível médio de corredores recreacionais. Assim, quanto maior a velocidade, mais estes fatores tem peso sobre a performance. Portanto não se preocupe com estes fatores se sua performance está abaixo dos 5' / km ou 12 km/h. Atenha-se nas questões inerentes à sua técnica e à melhora da eficiência energética de seu organismo. 


Referência Bibliográficas: 

Barnes, K. R., & Kilding, A. E. (2019). A randomized crossover study investigating the running economy of highly-trained male and female distance runners in marathon racing shoes versus track spikes. Sports Medicine49(2), 331-342.

Hoogkamer, W., Kram, R., & Arellano, C. J. (2017). How biomechanical improvements in running economy could break the 2-hour marathon barrier. Sports Medicine47(9), 1739-1750.

Hoogkamer, W., Kipp, S., Frank, J. H., Farina, E. M., Luo, G., & Kram, R. (2017). A comparison of the energetic cost of running in marathon racing shoes. Sports Medicine, 48(4), 1009-1019.

Wood, R. Anthropometric Measurements of Olympic Marathon Champions. Topend Sports Website, December 2015, https://www.topendsports.com/events/summer/science/athletics-marathon.htm, Accessed 10/17/2019







segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

A INFLUÊNCIA DA ANTROPOMETRIA NA PERFORMANCE E ECONOMIA DE CORRIDA


          É comum olharmos para um corredor de elite em provas de fundo (longa duração) e percebermos características muita peculiares a este público, como a baixa quantidade de gordura, um nível de magreza elevado, baixa massa corporal, índice de massa corporal baixo, dentre outras. Essas características auxiliam a deixar o corredor mais eficiente, pois quanto menos peso ele carrega, menos energia gastará, economizando-a para a atividade fim, no caso, a corrida. 

        Existem outros fatores mas estes relacionados à antropometria do corredor, ou seja, às suas medidas corporais em termos de comprimento, perímetro, diâmetro e volume. Apesar de não ser um consenso sobre a influência positiva destes fatores na corrida, pelo motivo das pesquisas trabalharem com grupos heterogêneos, ainda se pesquisa à respeito.




      Ao assistir ao video do post referente a este texto percebemos que existe uma diferença de estatura entre os corredores africanos participantes da Maratona de Dubai de 2019, principalmente de um dos pacemakers (Asefa) para a primeira colocada feminina no km 16 da referida prova. o que implica esta diferença de estatura, e consequentemente, do comprimento dos membros inferiores na quantidade de passos dados por cada atleta. 


         No andamento do video percebemos que cada corredor tem uma cadência diferente do outro. A que se deve isso? Opção do corredor? Não, o comprimento do passo se dá pela forma mais econômica com que cada um consegue se adaptar. Por isso vemos a atleta Chepnegetich com uma cadência tão alta e o pacemaker com maior estatura (Asefa) com uma cadência quase 14% menor. Na tabela abaixo vemos o resultados dos calculos à partir dos dados obtidos da cadência, tempo de prova da atleta Chepnegetich (2h17) e a distância da prova (42195 metros). Veja a tabela após estes cálculos: 




       Desta forma utilizamos o artigo de Laumets e colaboradores (2017) para explicar estas diferenças. Os autores investigaram as características antropométricas dos membros inferiores na Economia de Corrida (EC) e na Performance da Corrida (PC), em corredores de longa distância  europeus caucasianos.  

      Foram avaliados 13 corredores homens caucasianos da elite européia de provas de meio fundo e de provas de fundo, na esteira, até a exaustão voluntária. Foram realizadas medidas antropométricas dos membros inferiores de comprimento, determinando comprimento da coxa e perna, e relacionado com outras medidas de composição corporal relacionadas à massa corporal, estatura e comprimento dos seguimentos dos membros inferiores.  Como resultados, correlações positivas foram encontradas entre o consumo máximo de oxigênio e velocidades submáximas (14, 16 e 18 km/h), mas não houve correlação destas ou da EC com as proporções calculadas. Somente uma fraca correlação negativa do comprimento da perna com corridas submáximas a 16 km/h, demonstrando uma tendência similar nas velocidades a 14 e 18 km/h. 




        Os autores afirmam que neste estudo, as maiores medidas de comprimento da perna (do joelho para baixo), assim como um menor Índice de massa corpórea (IMC) estão relacionadas com a EC medidas nas velocidades submáximas, tendo acontecido o mesmo em corredores de alto nível do leste da África onde corredores, com maiores MMII, apresentaram maior performance, ao citar outros estudos.  Essa menor massa dos MMII juntamente com sua estrutura esguia seriam dois importantes fatores que contribuem também na EC. 

          Outro estudo relacionando questões antropométricas em corredores (Mooses e colaboradores, 2014) tb mostra a relação entre a PC e o comprimento da coxa, o comprimento de todo o membro inferior e a razão entre o comprimento de todo o membro inferior e a estatura, indicando que membro inferiores relativamente mais longos são vantajosos para a PC, dados estes demonstrados nos gráficos à seguir. 


Gráfico 1-  (A) Relação entre comprimento total dos Membros inferiores (Total leg -circulo escuro) e da coxa (Upper leg - circulos abertos) demonstrando uma leve relação direta entre aumento do comprimento da coxa e membros e aumento da performance através da pontuação da IAAF, agora World Athletics. (B) relação entre a razão comprimento dos membros inferiores com a estatura e  a performance através da pontuação da IAAF, agora World Athletics. (Mooses e colaboradores, 2014)
       Os autores tentam explicar este fato afirmando que apesar da oscilação de longos membros aumentar o custo energético, isso justificaria a necessidade de grande flexão do joelho na fase de balanço após a propulsão. Neste caso, quanto menor a massa, menor o custo energético, principalmente se a perna apresentar uma baixa proporção na massa de todo o membro inferior. Além disso, citam outros estudos afirmando que membros inferiores maiores promovem um passo mais amplo, sendo mais eficiente que o aumento da frequência de passos (cadência), promovendo uma maior EC. Mas isto somente pode ser considerado a 90% da máxima velocidade, já que à partir deste ponto a velocidade aumentará predominantemente pelo aumento da cadência. 

      Outro dado interessante do ponto de vista antropométrico, não tão científico, é a relação entre Índice de Massa Corporea (relação massa e estatura) com a performance em todas as maratonas olímpicas, demonstrando uma tendência de diminuição do IMC com o aumento da performance. 


Gráfico 2 - Índice de Massa Corpórea de cada campeão olímpico na maratona masculina.  (Wood, 2015)

      Ou seja, nesta relação entre antropometria, performance e economia de corrida pode-se concluir: o comprimento da perna e o IMC apresentam relação com a EC, já o comprimento dos membros inferiores estão relacionados com melhor PC, podendo estes dados serem utilizados para detecção de talentos ou predição de performance. Mas isso não significa que você, não tão favorecido com o comprimento de membros inferiores não possa correr bem, mas terá mais dificuldades de competir com indivíduos cujo o comprimento dos membros inferiores é maior.        


Referências Bibliográficas: 

Laumets, R., Viigipuu, K., Mooses, K., Mäestu, J., Purge, P., Pehme, A., ... & Mooses, M. (2017). Lower leg length is associated with running economy in high level caucasian distance runners. Journal of human kinetics56(1), 229-239.


Mooses, M., Mooses, K., Haile, D. W., Durussel, J., Kaasik, P., & Pitsiladis, Y. P. (2015). Dissociation between running economy and running performance in elite Kenyan distance runners. Journal of sports sciences33(2), 136-144.

Robert Wood, "Anthropometric Measurements of Olympic Marathon Champions." Topend Sports Website, December 2015, https://www.topendsports.com/events/summer/science/athletics-marathon.htm, Accessed 12/16/2019

terça-feira, 26 de novembro de 2019

UMA CONDIÇÃO DE PASSO ASSIMÉTRICA AFETA A ECONOMIA DE CORRIDA?

Muitas vezes, ao vermos uma pessoa correndo, podemos ter a impressão de que ela esteja mancando. Esta impressão é porque notamos que existe uma assimetria na forma como a pessoa corre. Esta assimetria nada mais é que uma diferenciação no tempo de cada passo  entre o pé direito e esquerdo. 

Existem situações em que a avaliação da forma como se pisa leva-se em consideração somente um dos membros, adotando a ideia da simetria entre eles, considerando-se que o movimento feito por um lado de nosso corpo  terá a mesma qualidade comparado ao outro membro não avaliado. Isso acontece por nos considerarmos completamente simétricos. Somente para se ter uma ideia em termos de pisada, Larson e colaboradores demonstraram que entre os corredores recreacionais e sub elite de uma prova de 21/42 km,  5,9% dos corredores  tinham assimetria na forma de pisar, ou seja, cada pé pisava de uma forma diferente. Era um percentual maior que os indivíduos que corriam com antepé, 1,8% com ambos os pés. 

Destacamos aqui uma assimetria bem visível. E assimetrias em que não identificamos visualmente? Quais as consequências para a nossa corrida? Será que gastamos mais energia? 



Beck e colaboradores (2018) propuseram determinar como uma corrida biomecanicamente assimetrica afeta a taxa metabólica em indivíduos sem alterações que pudessem provocar esta assimetria. 

Segundo os autores, indivíduos sem lesões adotam, naturalmente, um tempo de contato para minimizar  o seu gasto metabólico durante a corrida. A redução do tempo de contato requer músculos que possam gerar força e sustentar o peso corporal quando em contato com o solo, utilizando energia para isto. Com uma alteração do tempo de contato, e consequentemente, de capacidade elástica do músculo, altera-se também a taxa metabólica. 

Para verificar como a assimetria pode afetar o gasto energético 10 corredores (6 homens) correram em esteira instrumentada com plataforma de força, a  10 km/h, por 7 séries de 12 minutos com 5 minutos de descanso entre as séries. Cada série era feita ouvindo-se um metrônomo customizado através de programação, para que pudesse provocar assimetria entre os passos. O passo foi considerado como o tempo de contato mais o tempo de voo até o contato do próximo pé. A primeira tentativa foi para determinar qual o membro inferior predominante, a segunda e terceira para a ambientação com o uso do metrônomo em condição assimétrica e simétrica. À partir da quarta até a sétima série correu-se com o metrônomo nas condições com 0%, 7%, 14% e 21% de assimetria entre os membros, mas de forma aleatória. 



Nestas corridas foram medidas a força de reação do solo (FRS) e variaveis metabólicas através da medição de consumo de oxigênio e a assimetria foi calculada através de uma fórmula. 

Como resultado, os autores afirmam que: 
-  para cada 10% de aumento da assimetria do tempo do passo, o consumo metabólico aumentou em 3,5%; 
- para cada 10% de aumento da assimetria do tempo de contato, o metabolismo aumentou em 7,8%; 
- para cada 10% de aumento da assimetria da média da FRS no apoio, houve um aumento de 3,5% no metabolismo;
- para cada 10% de aumento da assimetria  no pico de frenagem, foi provocado um aumento de 1,3% no metabolismo; 
- para cada 10% de aumento da assimetria no pico propulsivo, houve um aumento de 2% no metabolismo; 
- para cada 10% de aumento da assimetria da rigidez do membro inferior, foi provocado um aumento de 3,9% no metabolismo; 
- para cada 10% de aumento na assimetria do trabalho mecânico externo positivo e negativo, um aumento de 1,1% e 0,9% no metabolismo, respectivamente; 
- e finalmente, uma assimetria no pico da FRS não afetou o metabolismo. 


Estes resultados confirma a hipótese dos autores de que a assimetria na passada faz com que os corredores gastem mais energia para correr a mesma distância, na mesma intensidade. Justificando os achados, os autores afirmam que os corredores participantes do estudo obtiveram um tempo de passada assimétrica pela modulação de sua força no solo, conforme visto no gráfico à seguir. 

Figura 1 - Relação entre o índice de simetria da Média da Força de Reação do solo (FRS) vertical e o índice de simetria do  tempo de passo

Para que isso acontecesse, o tempo de contato com o chão foi mantido, e a diferença encontrasse no tempo da fase aérea entre os membros inferiores. Por este motivo que nos parece que o indivíduo está mancando. Uma diferença na fase aérea, neste caso é provocada por uma maior força de um dos membros fazendo com que tenha um tempo de voo maior que o lado contrário. Isso gera um maior trabalho mecânico positivo, e consequentemente, maior gasto energético.  Somente para se ter uma ideia, uma assimetria no tempo da passada de 31,3% provocou uma aumento de 210% no trabalho mecânico dos passos mais lentos em relação aos mais curtos. 

Isto acontece pois há uma redução do uso da energia elástica no membro inferior cujo o passo é mais lento, havendo a necessidade de maior trabalho mecânico positivo para compensar a não utilização dos componentes elásticos, o que ocorre no membro cujo o passo é mais rápido. Isso explica o porque uma corrida assimetria acaba gerando uma maior gasto energético. 



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Larson, P., Higgins, E., Kaminski, J., Decker, T., Preble, J., Lyons, D., ... & Normile, A. (2011). Foot strike patterns of recreational and sub-elite runners in a long-distance road race. Journal of sports sciences29(15), 1665-1673.

Beck, O. N., Azua, E. N., & Grabowski, A. M. (2018). Step time asymmetry increases metabolic energy expenditure during running. European journal of applied physiology118(10), 2147-2154.




segunda-feira, 28 de outubro de 2019

NOSSAS ASSIMETRIAS PODEM AFETAR A SEGURANÇA DA NOSSA CORRIDA?


Todos sabemos que não somos totalmente simétricos. Sempre existe alguma diferença entre as estruturas em pares de nosso corpo. Aliás, muito se fala que a beleza de um corpo se dá exatamente pela simetria existente entre as estruturas. E dentro da funcionalidade de nossas estruturas, como estas assimetrias podem nos afetar em termos estáticos e dinâmicos? E ainda mais, como esta assimetria afetará músculos, ossos e articulações em uma condição de fadiga? Pode haver uma potencialização de problemas quando estamos cansados?

Pensando nisso, Radzak e colaboradores (2018) pesquisaram exatamente o efeito de nossas assimetrias na corrida em condições com e sem fadiga, acreditando que a condição de cansaço possa potencializar ainda mais as diferenças existentes entre os membros inferiores (MMII) a a consequência disso possa ser o aumento da possibilidade de lesão.

A pesquisa foi realizada com 20 jovens saudáveis, sendo 6 mulheres, sendo levantados dados cinéticos e cinemáticos (Análise 3D) da marcha e corrida descansados, e da corrida em estado de fadiga. Todos correram em uma pista de 18 metros sendo filmados com câmeras infravermelho, e tendo coletadas a força com que tocavam seus pés ao solo.



Das 33 variáveis cinéticas e cinemáticas, somente 1 não apresentou diferença entre os membros na condição descansada. Estes resultados caracterizam a amostra como apresentando assimetria entre os membros inferiores antes de colocá-los sob a condição de fadiga. Já sob esta condição, 30 variáveis apresentaram diferença estatística entre os membros.
Já a comparação entre a condição descansada e cansada os autores utilizaram uma relação angular definida em outro estudo citado pelos autores, utilizando uma razão entre o valor obtido para cada variável do MMII esquerdo e do direito. Quando este valor é mais próximo de O (zero), mais simétrico é o movimento.

Tabela 1 - Diferenças naos angulos de simetria entre a condição sem fadiga (rested) e com fadiga . 

         Neste estudo, a fadiga provocou a diminuição em 34% da assimetria da complacência do MMII (Stiffness - Kvert) mas o aumento dos valores absolutos desta variável;  a diminuição da assimetria na taxa de impacto (loading rate) em 35%, e também da assimetria do pico da força de frenagem(free moment at peak breaking force) em 36%, e aumentou em 91% a assimetria da excursão da rotação interna do joelho (knee internal rotation excursion).
Com relação a complacência e a taxa de impacto dos MMII, os autores afirmam que o aumento desta variável corresponde a um aumento significante na força vertical da reação do solo e da taxa de carga, indicando uma rápida transferência de força. A diminuição desta variável corresponde ao aumento do tempo de apoio atrasando o momento do pico da força vertical da reação do solo.
Quando se observa os resultados relativos ao joelho mais especificamente quanto à sua rigidez e a sua rotação interna, verifica-se que o joelho esquerdo teve estas variáveis diminuídas após os atletas serem avaliados em condição de fadiga, não acontecendo o mesmo com o esquerdo. Os autores tentam explicar esta diferença levando em consideração a questão da dominância de membros, mas não conseguem concluir nada à respeito já que a literatura sobre a questão não tem um posicionamento concreto.



Segundo os autores, algumas lesões como fratura de stress tibial, lesões por overuse  e osteoartrite no joelho, estão associadas a algumas das variáveis aqui analisadas como loading rate e o momento de adução;  a máxima velocidade na adução do joelho e excursão da rotação interna do joelho; e momento de adução no joelho e velocidade de joelho varo, respectivamente.  Apesar de trabalharem com somente indivíduos saudáveis propõem o acompanhamento destes corredores ao longo do tempo, no intuito de verificar o comportamento destas variáveis a longo prazo e suas consequências ao organismo do corredor.
Resumindo, muitas das variáveis previamente associadas com lesões nos MMII foram encontradas como assimétricas na condição descansada e sob fadiga.  A magnitude da assimetria em algumas variáveis diminuiu com a fadiga, outras tornaram-se mais assimétricas e o joelho parece ser a região mais suscetível ao aumento da magnitude das assimetrias.


Referência Bibliográfica: 


Radzak, K. N., Putnam, A. M., Tamura, K., Hetzler, R. K., & Stickley, C. D. (2017). Asymmetry between lower limbs during rested and fatigued state running gait in healthy individuals. Gait & posture51, 268-274.

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

QUALQUER UM PODE CORRER COMO OS MARATONISTAS DE ALTA PERFORMANCE?

          Em tempos das quebras da barreira das duas horas na Maratona masculina e de recorde de 16 anos da Maratona feminina, fica uma vontade de correr mais rápido e buscar o seu recorde pessoal... Mas a pergunta que fica é: será que qualquer corredor consegue correr como os corredores de elite? O que eles têm de diferente que pouquíssimas pessoas conseguem chegar neste patamar?

Fig. 1- Eliud Kipchoge e seu tempo no 159 Ineos Challenge 2019

Fig 2- Brigid Kosgei com o tempo recorde na Maratona de Chicago 2019

      Existe um primeiro fator de extrema importância e totalmente visível que é o somatotipo, vulgarmente  conhecido como biotipo.  Uma das principais características de um corredor de elite é ser magro e leve, com uma condição de volume muscular não tão grande como atletas de outras modalidades.

        O Índice de Massa Corpórea pode ser um indicativo de qual seria o corpo ideal considerando a elite da corrida de rua. Certo de que é um índice pouco preciso por fazer uma relação somente entre massa corporal e estatura, mas fornece um indicativo interessante. O ponto negativo deste índice é a incapacidade de identificar a composição dos tecidos corporais, não sendo capaz de diferenciar a quantidade de massa de gordura e massa isenta de gordura. 

        Vemos no gráfico à seguir a evolução do IMC dos atletas campeões olímpicos na Maratona. Percebe-se uma tendência à diminuição do IMC sabendo-se que os tempos foram diminuindo ao longo do tempo. Obviamente que este não é o único fator, mas digamos que um requisito importante. Se fosse o fator principal, qualquer modelo de passarela poderia ser uma maratonista. Mas muito pelo contrário, a ausência de adaptações é tamanha, que no geral, mal conseguem correr 1 km.

Gráfico 1- Índice de Massa Corpórea dos campeões masculinos da Maratona Olímpica. disponível em: https://www.topendsports.com/events/summer/science/athletics-marathon.htm

        Claro que um fator preponderante é a forma como se corre, a técnica de cada corredor.  Um estudo recente, de Preece e colaboradores, preocupou-se em comparar a técnica de corrida de corredores de alta performance (AP) e recreacionais, correndo fora da esteira. A pergunta: existe diferença na técnica da corrida de atletas de alta performance e recreacionais? Quais variáveis biomecânicas indicam a diferença entre estas duas populações, caso exista esta diferença ?

        Foram comparados 14 atletas de alta performance (AP) (6 mulheres) com media de 32 minutos nos 10k e 14 atletas recreacionais (8 homens) com media de 43 minutos nesta distância. Foi realizada uma análise 3D na corrida destes atletas em 4 velocidades: 11,9 ; 14; 17,3 e 20,1 km/h. Esta corrida foi realizada em uma pista de 32 metros e isso o diferencia de outros estudos citados que tentaram comparar a técnica dessas duas populações de corredores, mas na esteira.

          Em termos de resultados desta comparação, uma informação importante é a de que as variáveis biomecânicas analisadas demonstraram uma grande dependência da velocidade. Ou seja, a  manifestação destas variáveis em corredores recreacionais só ocorrerá em velocidades maiores, demonstrando que não dá para ficar olhando o que o atleta de elite faz, para nós, amadores, fazermos igual em velocidades mais baixas.

         E o que foi diferente, do ponto de vista biomecânico, entre os dois grupos? Os corredores AP apresentaram maior força vertical, maior velocidade vertical do centro de massa  (CoM) na propulsão,  maior tempo de vôo, maior perpendicularidade da tíbia no momento do toque do pé no solo, flexão do joelho antecipada e maior antes do contato com o solo, maior proporção de corredores de antepé, maior proximidade do pé em relação ao CoM.

Tabela 1 - Número de corredores com o tipo de pisada em retropé, a cada velocidade testada. 

      Segundo os autores, 9 variáveis das 16 levantadas explicaram 99% da variação existente entre os grupos elite e recreacionais.

       Dentre as variáveis estudadas os autores destacam que os atletas de alta performance em endurance mantém o comprimento de passada pela geração de um maior impulso vertical, isso foi provocado por um maior componente vertical do CoM após a propulsão, e consequentemente, aterrissando com um joelho mais extendido, mas com o pé mais proximo da prejeção do quadril. 

      Este maior componente vertical do CoM, principalmente na fase aérea, faz com que o atleta tenha mais tempo para trabalhar com uma amplitude elevada de passada, assim como, uma frequência de passada maior. Para que consiga correr melhor, o membro que tocará ao solo terá que ter maior rigidez, pois uma flexão excessiva proporcionará uma maior oscilação vertical da pelve durante o apoio, aumentando o tempo de contato, e diminuindo o componente elástico dos músculos na fase de apoio. Portanto, outro componente a ser analisado, de forma separada, é a oscilação da pelve na fase aérea e na fase de apoio. 

      Outra sugestão é que a alteração do aspecto relacionado à angulação da tíbia no contato inicial, já destacado em outro post que fizemos anteriormente sobre a técnica e a economia de corrida (OUTROS PONTOS DA TÉCNICA DA CORRIDA NECESSÁRIOS AO ENTENDIMENTO DA ECONOMIA DE CORRIDA E DA PERFORMANCE), pode corresponder às alterações em outras variáveis identificadas como importantes da diferença entre as duas populações de corredores. 

          Vemos abaixo a comparação no dois grupos em algumas variáveis mensuradas. 

Gráficos da média dos resultados obtidos nos grupos Alta performance (linha sólida) e recreacional (linha tracejada)  todos em velocidade de 14 km/h .  2a - Força de reação do solo ;  2b - Ângulo do Joelho ; 2c - Centro de pressão no pé ; 2d - Momento de força no tornozelo
        Durante o início do ciclo da passada, a evolução da Força de Reação do Solo (GRF, 2a) foi relativamente similar, diferenciando em seu pico, sendo maior no grupo AP,  devido a predominância da pisada com antepé. O momento do tornozelo (2d) também foi mais elevado durante o mesmo tempo pela mesma razão da corrida com antepé, para aumentar o uso da energia elástica no tendão calcâneo. A consequência disto foi o posicionamento do Centro de Pressão (CoP, 2c) no pé, estando mais anteriorizado neste grupo. Outra consequência foi o maior deslocamento do CoM na fase aérea aumentando o tempo de voo, permitindo o posicionamento mais vertical da tíbia, diminuindo a possibilidade da passada muito longa (overstriding). 

      Portanto percebe-se que para correr como os atletas de alta performance há a necessidade de algumas alterações em termos biomecânicos, para que se consiga chegar a maiores velocidades. Não é simplesmente a questão da frequência e amplitude de passada, mas principalmente em relação ao aumento do impulso vertical após a propulsão. Claro que não estamos adicionando a isso outras questões do ponto de vista da fisiologia, que seriam mais tantas outras variáveis, além das 9 encontradas neste estudo. 

       Acreditamos que esteja claro o quão complexo é acertar na prescrição em termos de performance. Fica a dica: seja mais crítico com relação às receitas prontas que oferecem resultado por questões aparentemente tão simples de serem modificadas. É sempre muito complexo modificar padrão de movimento na corrida, e consequentemente a performance. 

Bibliografia:


Preece, S.J., Bramah, C. and Mason, D., 2019. The biomechanical characteristics of high-performance endurance running. European Journal of Sport Science19(6), pp.784-792.

Robert Wood, Anthropometric Measurements of Olympic Marathon Champions. Topend Sports Website, December 2015, https://www.topendsports.com/events/summer/science/athletics-marathon.htm, Accessed 10/17/2019