domingo, 3 de maio de 2020

A PRONAÇÃO EXCESSIVA TAMBÉM PODE AFETAR A SAÚDE DA REGIÃO LOMBOPÉLVICA?

      

     Este é o quarto texto que postamos especificamente sobre a questão da pronação do pé, onde no primeiro (FALANDO SOBRE PRONAÇÃO) abordamos a questão do que seria este movimento em nossos pés. Posteriormente, no texto (COMO A PRONAÇÃO PODE AFETAR DIRETAMENTE A SOBRECARGA NOS MEMBROS INFERIORES DURANTE A CORRIDA), abordamos as consequências da pronação em termos de sobrecarga no corpo dos corredores, e mais recentemente, destacamos o papel dos calçados de controle de movimento na pronação (O TÊNIS PARA PRONAÇÃO FAZ O QUE ELE REALMENTE SE PROPÕEM A FAZER? ). Hoje, à partir de um artigo recente de Yazdani e colaboradores (2019), levantaremos uma possibilidade sobre uma possível relação existente entre a condição de pronação excessiva e uma consequente ação exagerada e atrasada da musculatura lombopélvica, durante a fase de apoio da marcha. 


     Muito se fala sobre problemas e dores na coluna na população em geral e também em corredores. E hoje está muito claro o conceito do Core na região abdominal, preconizado nas duas ultimas décadas, principalmente com o crescimento do Pilates, com a denominação do "Power House". Por tal motivo, todos os exercícios que envolvem um condição de estabilização da coluna tomaram um vulto enorme, e são quase que obrigatórios em qualquer sequência de exercícios para corredores ou pessoas com queixa de lombalgia. 


       Assim, o conceito de CORE pode ser definido como um aumento ou restauração da capacidade do sistema neuromuscular de controlar e proteger a coluna vertebral de novas ou recorrentes lesões (Hodges, 2003).


      Este conceito foi muito utilizado para a região abdominal na busca de uma forma de atenuar as frequentes dores lombares em toda a população. Mas obviamente, existem outras partes de nosso corpo em que há a mesma necessidade de estabilização, e uma delas é exatamente o pé. 

      Da mesma forma, se este conceito for aplicado ao pé, tem-se a adaptação para o Foot Core, proposto por McKeon e colaboradores (2015) onde, dada a grande mobilidade do pé pela sua grande quantidade de ossos articulando-se, assim como, da sobrecarga recebida, como a coluna vertebral, há a necessidade de uma condição onde a musculatura desta região controle todos os movimentos possíveis de todas estas articulações, tornando o movimento mais seguro para todo o corpo.




       Yazdani e colaboradores (2019) demonstraram uma relação entre uma condição de pronação excessiva, ou seja, falta de foot core, e uma maior atividade dos músculos da região lombopélvica durante o andar. Os autores demonstraram que o grupo de mulheres com hiperpronação apresentou uma maior pico de força nos músculos eretores da coluna, iliopsoas e músculos abdominais, comparadas às mulheres sem pronação excessiva. Além disso, o pico de força alcançado ocorreu mais tardiamente pelo grupo com hiperpronação. 

       Os autores afirmam que esta maior atividade muscular dos músculos citados mantém a ideia de uma tentativa de proteção da região lumbopélvica em pessoas com pronação excessiva. Esta hipótese também foi apresentada em indivíduos como dores lombares, lembrando que as mulheres participantes eram assintomáticas, ou seja, sem queixa alguma de dores. A sugestão fornecida pelos autores é a de que em pessoas com pronação excessiva, o controle dos movimentos no plano sagital é alterado. 

       Destacamos que na corrida, a condição de apoio simples promove maior sobrecarga no pé com um possível surgimento ou amplificação destas condições de pronação excessiva. Enaltecemos então a necessidade de entender o conceito de foot core, já que boa parte do controle deste movimento do pé depende da musculatura intrínseca e extrínseca da mesmo. Desta forma, trabalhar o foot core, além de dar mais segurança à sua corrida, como um dos fatores de atenuação de lesões no joelho, também pode ser mais um fator para diminuir a possibilidade de problemas na região lombopélvica. Este seria o nosso pressuposto, baseado nos artigos aqui destacados, esperando que estes ou outros pesquisadores façam esta pesquisa, utilizando como movimento a corrida, para que tenhamos informações mais acertivas e testadas à respeito. 




Referências Biliográficas: 

Hodges, P. W. (2003). Core stability exercise in chronic low back pain. Orthopedic Clinics, 34(2), 245-254.

McKeon, P. O., Hertel, J., Bramble, D., & Davis, I. (2015). The foot core system: a new paradigm for understanding intrinsic foot muscle function. Br J Sports Med, 49(5), 290-290.

Yazdani, F., Razeghi, M., Karimi, M. T., Bani, M. S., & Bahreinizad, H. (2019). Foot hyperpronation alters lumbopelvic muscle function during the stance phase of gait. Gait & posture, 74, 102-107
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