Continuando o post (O TÊNIS PODE INFLUENCIAR NA ECONOMIA DE CORRIDA? ) onde apresentamos o trabalho comparando um protótipo de um tênis com dois outros modelos, hoje seguiremos a mesma linha, mas com outro artigo descrevendo se a economia de corrida realmente é obtida com o protótipo nas condições de tênis, comercializável, já no mercado.
Figura 1- Componentes da entressola do NVF. |
A diferença no estudo de Barnes e colaboradores (2018) e de Hookgamer e colaboradores (2017), citado na postagem anterior, foi a comparação ter sido realizada com um terceiro calçado sendo uma sapatilha apropriada à pista de atletismo, e o outro calçado de uma empresa concorrente, um modelo posterior ao utilizado na quebra do recorde da maratona em Berlim (ver figura 2).
Neste caso, os homens tinham tempos sub 15' e 30' em provas de 5 e 10 quilômetros, respectivamente e as mulheres sub 17' e sub 35' nas mesmas provas. Ao correr em 4 velocidades pode-se ver qual o comportamento do consumo de oxigênio com o uso de cada tênis e também o comportamento de algumas variáveis biomecânicas como cadência, tamanho de passada, tempo de contato e tempo na fase aérea. Vamos aos resultados.
O tênis em questão melhorou a economia de corrida a uma média de 4,2% comparado com ao tênis da marca concorrente. A variação desta economia entre os 24 atletas (homens e mulheres) foi entre 1,72 a 7,15%, demonstrando uma variabilidade individual considerável.
Com a equalização da massa dos tênis, já que o da concorrente era mais pesado, a economia de corrida foi da ordem de 2,9%. Na comparação com o outro modelo da marca, lembrando que este era uma sapatilha utilizada em pista de atletismo, muito próximo de um tênis minimalista, a economia do consumo de oxigênio foi de 2,6%. Veja o comportamento individual e da média do grupo no gráfico abaixo.
Outra classe de variáveis foi as relacionadas à biomecânica, onde o estudo analisou o tempo de contato, tempo de voo, a cadência e o comprimento de passada. Neste estudo os homens apresentaram maior tempo de contato e fase aérea, menor cadência e maior comprimento de passada quando utilizando o NVF e o NVF+.
Nas velocidades utilizadas, o tempo de contato foi 2,5%, 1,6% e 1,2% maior com NVF comparado ao NZM, nas velocidades 14, 16 e 18 km/h, respectivamente. Comparando com o ADI estas diferenças no tempo de contato foram da ordem de 0,2 , 0,9 e 0,8% mais longos com NVF.
Para as mulheres, não houve diferença entre NVF e NZM nas velocidade de 14 e 15 km/h, mas apresentou um tempo de contato 0,76% menor, favorável ao NVF, e de 1,8% menor comparado ao ADI em todas as velocidades.
Quanto à cadência, ela foi 1,1% e 1,2% menor utilizando o NVF comparando ao NZM nas velocidades de 16 e 18 km/h, nos homens. Já para as mulheres, houve diferença entre os mesmo modelos, da ordem de 0,9% , 1,7% e 1% sendo uma menor cadência para o NVF comparado ao NZM. Comparando o ADI com o NZM esta variável foi 1,4%, 1,7% e 1% menor no ADI, nas velocidades 14, 15 e 16 km/h, respectivamente.
Com relação ao comprimento da passada, NVF apresentou esta variável 0,7% maior a 14km/h e nas demais velocidades não foi diferente do modelo ADI. Quando comparado ao NZM, houve diferença nas maiores velocidades, 16 e 18 km/h, da ordem de 1,3% e 1,2%, respectivamente. O mesmo aconteceu com as mulheres para esta variável.
Com todas estas informações os autores mostraram a possibilidade de uma melhora da economia de corrida com o uso deste tênis com uma tecnologia diferenciada em sua entressola. Mas o que os autores efetivamente não mostraram é se houve uma alteração na forma de pisar durante os testes ao utilizar o NZM, por exemplo. Segundo os autores, 5 dos 24 atletas tinham uma característica de corrida com antepé ou mediopé, não sendo possível efetuar comparações entre o tipo de pisada com o uso destes calçados e a economia de corrida.
Um fator não mencionado é que ao correr com estas sapatilhas tende-se a modificar a pisada pelo menos para meiopé, já que a quantidade de borracha na região do calcanhar é pequena o que levaria a uma mudança, principalmente nas velocidades mais elevadas. Veja um pouco sobre este assunto em nosso post (ALTERAR O TIPO DE PISADA É BENÉFICO AO CORREDOR?)
Outro ponto questionado é: se observarmos a construção do NVF e a configuração da fibra de carbono, percebe-se que talvez o maior aproveitamento da resiliência desta placa seja exatamente na corrida com antepé. Na corrida com retropé talvez haja um certo favorecimento somente após o médio apoio, fase em que há a transição do quadril em uma posição atrás do pé para frente do pé. Esta transição é a troca da fase de frenagem para a fase de propulsão. Talvez um aprofundamento desta pesquisa possa ser a verificação se este tênis é capaz de melhorar a economia de corrida em qualquer tipo de pisada.
Referências Bibliográficas:
Barnes, K. R., & Kilding, A. E. (2018). A randomized crossover study investigating the running economy of highly-trained male and female distance runners in marathon racing shoes versus track spikes. Sports Medicine, 49(2), 331-342.
Hoogkamer, W., Kipp, S., Frank, J. H., Farina, E. M., Luo, G., & Kram, R. (2017). A comparison of the energetic cost of running in marathon racing shoes. Sports Medicine, 48(4), 1009-1019.
O tênis em questão melhorou a economia de corrida a uma média de 4,2% comparado com ao tênis da marca concorrente. A variação desta economia entre os 24 atletas (homens e mulheres) foi entre 1,72 a 7,15%, demonstrando uma variabilidade individual considerável.
Com a equalização da massa dos tênis, já que o da concorrente era mais pesado, a economia de corrida foi da ordem de 2,9%. Na comparação com o outro modelo da marca, lembrando que este era uma sapatilha utilizada em pista de atletismo, muito próximo de um tênis minimalista, a economia do consumo de oxigênio foi de 2,6%. Veja o comportamento individual e da média do grupo no gráfico abaixo.
Gráfico 1 - Consumo de oxigênio individual (traços em cinza) e a média do grupo (em preto) em cada velocidade e com o uso de cada calçado. |
Figura 2 - Modelos dos tênis comparados, onde o NVF+ teve um acréscimo de 25 a 35 gramas na massa do NVF para igualar a sua massa com o ADI. |
Nas velocidades utilizadas, o tempo de contato foi 2,5%, 1,6% e 1,2% maior com NVF comparado ao NZM, nas velocidades 14, 16 e 18 km/h, respectivamente. Comparando com o ADI estas diferenças no tempo de contato foram da ordem de 0,2 , 0,9 e 0,8% mais longos com NVF.
Para as mulheres, não houve diferença entre NVF e NZM nas velocidade de 14 e 15 km/h, mas apresentou um tempo de contato 0,76% menor, favorável ao NVF, e de 1,8% menor comparado ao ADI em todas as velocidades.
Quanto à cadência, ela foi 1,1% e 1,2% menor utilizando o NVF comparando ao NZM nas velocidades de 16 e 18 km/h, nos homens. Já para as mulheres, houve diferença entre os mesmo modelos, da ordem de 0,9% , 1,7% e 1% sendo uma menor cadência para o NVF comparado ao NZM. Comparando o ADI com o NZM esta variável foi 1,4%, 1,7% e 1% menor no ADI, nas velocidades 14, 15 e 16 km/h, respectivamente.
Com relação ao comprimento da passada, NVF apresentou esta variável 0,7% maior a 14km/h e nas demais velocidades não foi diferente do modelo ADI. Quando comparado ao NZM, houve diferença nas maiores velocidades, 16 e 18 km/h, da ordem de 1,3% e 1,2%, respectivamente. O mesmo aconteceu com as mulheres para esta variável.
Com todas estas informações os autores mostraram a possibilidade de uma melhora da economia de corrida com o uso deste tênis com uma tecnologia diferenciada em sua entressola. Mas o que os autores efetivamente não mostraram é se houve uma alteração na forma de pisar durante os testes ao utilizar o NZM, por exemplo. Segundo os autores, 5 dos 24 atletas tinham uma característica de corrida com antepé ou mediopé, não sendo possível efetuar comparações entre o tipo de pisada com o uso destes calçados e a economia de corrida.
Um fator não mencionado é que ao correr com estas sapatilhas tende-se a modificar a pisada pelo menos para meiopé, já que a quantidade de borracha na região do calcanhar é pequena o que levaria a uma mudança, principalmente nas velocidades mais elevadas. Veja um pouco sobre este assunto em nosso post (ALTERAR O TIPO DE PISADA É BENÉFICO AO CORREDOR?)
Outro ponto questionado é: se observarmos a construção do NVF e a configuração da fibra de carbono, percebe-se que talvez o maior aproveitamento da resiliência desta placa seja exatamente na corrida com antepé. Na corrida com retropé talvez haja um certo favorecimento somente após o médio apoio, fase em que há a transição do quadril em uma posição atrás do pé para frente do pé. Esta transição é a troca da fase de frenagem para a fase de propulsão. Talvez um aprofundamento desta pesquisa possa ser a verificação se este tênis é capaz de melhorar a economia de corrida em qualquer tipo de pisada.
Referências Bibliográficas:
Barnes, K. R., & Kilding, A. E. (2018). A randomized crossover study investigating the running economy of highly-trained male and female distance runners in marathon racing shoes versus track spikes. Sports Medicine, 49(2), 331-342.
Hoogkamer, W., Kipp, S., Frank, J. H., Farina, E. M., Luo, G., & Kram, R. (2017). A comparison of the energetic cost of running in marathon racing shoes. Sports Medicine, 48(4), 1009-1019.
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