sexta-feira, 12 de julho de 2019

COMO O HIIT PODE CONTRIBUIR COM A ECONOMIA DE CORRIDA?


Luis Felipe Milano Teixeira






Dando sequência a série de postagens que abordam estratégias para promover a Economia de Corrida (EC), após introduzir a temática (ENTENDENDO O CONCEITO DE ECONOMIA DE CORRIDA) e discutir aspectos técnicos da passada relacionados à EC (CORRER COM ANTEPÉ OU RETROPÉ NÃO INTERFERE NA ECONOMIA DE CORRIDA, MAS PODE DIMINUIR DORES RELATIVAS À SINDROME PATELOFEMORAL) é hora de discutir o papel da intensidade de treinamento sobre a EC. Especificamente, nessa publicação, discutiremos o papel das sessões de treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT) sobre a EC.

Apesar de, atualmente, mais difundido e praticado por corredores, muitos praticantes e profissionais possuem diversas dúvidas em relação à elaboração (manipulação de suas variáveis), realização, controle e efeitos sobre aspectos biomecânicos e fisiológicos relevantes à prática de corrida de rua.

Diversos estudos tem investigado os efeitos da inserção de sessões de HIIT no treinamento de corredores de rua e de fundo. Contudo, especificamente em relação à EC, os resultados ainda são contraditórios.

Enquanto algumas investigações demostram que o HIIT entre 93-120% da Velocidade de Consumo Máximo de Oxigênio (vVO2Máx) são capazes de promover EC (Billat et al., 1999; Slawinski et al., 2001; Denadai et. al., 2006; Franch et al., 1998; Barnes et al., 2013), outros estudos, utilizando metodologia HIIT semelhantes, não demostram resultados positivos em relação à EC (Yoshida et al., 1990; Franch et al., 1998; Smith et al., 1999; Barnes et al., 2013). 

Para colaborar com a falta de convergência entre os resultados, Jones e Carter (2000) destacam que corredores normalmente são mais econômicos nas velocidades em que habitualmente treinam e existem diferenças importantes nos protocolos de treinamento entre estudos que investigam essa relação.

Contudo, quando o objeto de estudo não é, especificamente a EC, a inserção de sessões de HIIT no programa de treinamento de corredores tem demostrado interessantes resultados em relação ao VO2Máx, vVO2Máx, Velocidade de Limiar Anaeróbico, entre outros (Lake & Cavanagh, 1996; Silva et al., 2017). Tais aspectos fisiológicos serão abordados em futuras publicações.

Especificamente em relação à EC, Franch e colaboradores (1998), investigaram 2 tipos de treinamento intervalado de alta intensidade (LIT e SIT) e continuo de alta intensidade (DT) sobre a EC. Os pesquisadores investigaram 36 corredores recreacionais divididos em 3 grupos. Um dos grupos realizou treinamento continuo de alta intensidade (DT, ˜=94% vVO2Máx), outro realizou treinamento intervalado extensivo (LIT, ˜=106% vVO2Máx) e o último realizou treinamento intervalo intensivo (SIT, , ˜=132% vVO2Máx), todos com volume entre 20-30min/semana por 6 semanas. Os resultados demostram que houve aumento significativo no VO2Máx, e na vVO2Máx em todos os grupos analisados, sem ganhos adicionais para os grupos intervalados (LIT e SIT) em relação ao grupo continuo (DT). Já em relação à EC foi observado desenvolvimento apenas nos grupos DT e LIT. Tais resultados sugerem que HIIT com intensidade muito elevada ( ˜=132% vVO2Máx) não é a estratégia mais adequada para desenvolvimento da EC, seja por conta de uma alteração importante no padrão de passada, ou ainda, pela incapacidade de manter um volume mínimo de treinamento para que sejam notados efeitos sobre essa variável ( o volume de treino é outro aspecto importante no desenvolvimento da EC e será abordado em textos futuros).

Mais recentemente, Silva e colaboradores (2017) investigaram a influência de 4 semanas de HIIT na estratégia de pace para 5km em corredores amadores. Para tal, 16 corredores foram divididos em dois grupos, 8 fizeram parte do grupo controle e 8 compuseram o grupo HIIT. O grupo HIIT realizou sessões de treinamento intervalado de alta intensidade duas vezes por semana, nessas sessões de treinamento eram realizadas 5 séries de 265+67 seg  (aproximadamente 4,5min) na vVO2Máx  com intervalo ativo à 60% vVO2Máx e duração igual ao esforço entre as séries (1:1 - trabalho:repouso), enquanto o grupo controle manteve sua rotina habitual de treinamento, sem exercícios intervalados. Vale destacar que os pesquisadores controlaram o volume e a carga total de treinamento e não houve diferença entre ou grupos no período. 


Figura1.Percentage of changes of the physiological variables after the training period. Data are reported as means±SD. HIIT: high-intensity interval training group; CON: control group; VO2max: maximal oxygen uptake; PTS: peak treadmill speed; OBLA: running speed associated with onset of blood lactate accumulation; RE: running economy measured at 12 km/h. *Po0.05 (unpaired t-test) (Silva et al., 2017)


Como principais resultados, foi observado aumento significativo na EC, aproximadamente 5-7%, e na velocidade pico de corrida, no grupo que acrescentou as sessões de HIIT em sua rotina de treinamento. Apesar de observar-se desenvolvimento das demais variáveis avaliadas em ambos os grupos (VO2Máx, Velocidade de Limiar Anaeróbico, pace para 5km, percepção de esforço nos 5km, performance nos 5km), não houve diferença entre os grupos nesses parâmetros (Figura 1).  

Tendo esses achados como exemplos do que pode-se encontrar na literatura, sugere-se que ambos os métodos de treinamento (Continuo e HIIT) devem fazer parte de programas de treinamento para corredores. Contudo, há necessidade de compreender que a formatação do HIIT (intensidade, volume, relação trabalho:repouso, entre outras) pode interferir diretamente na resposta adaptativa dos atletas. Ao que tudo indica, se o objetivo for desenvolver EC, é necessário prescrever sessões de treinamento intervalado, com intensidade próxima de 100% vVO2Máx, volume de 1-4min/série e proporção trabalho:recuperação de 1:1 ou 1:2 e frequência semanal de 1-3 vezes por semana (à depender da fase de periodização, nível de treinamento do atleta e administração do princípio da sobrecarga).

Vale destacar que esse texto refere-se à relação entre sessões de treinamento que utilizam o método HIIT e EC. Assim sendo, outras formas de configuração do HIIT, com intensidades diferentes (e.g. acima da vVO2Máx,), volumes diferentes (e.g. menores que 1min) e outras proporções entre trabalho:repouso (e.g. 1:,5 ; 1:3 ; 1:4) não devem ser descartadas em um programa de treinamento para corredores, uma vez que podem ser interessantes para desenvolver outros aspectos e serão exploradas em publicações futuras.


Referências

Barnes KR, Hopkins WG, McGuigan MR, et al. Effects of different uphill interval-training programs on running economy and performance. Int J Sports Physiol Perform. 2013;8(6):639–47.

Billat VL, Flechet B, Petit B, et al. Interval training at VO2max: effects on aerobic performance and overtraining markers. Med Sci Sports Exerc. 1999;31(1):156–63.

Denadai BS, Ortiz MJ, Greco CC, et al. Interval training at 95 and 100 % of the velocity at VO2 max: effects on aerobic physiological indexes and running performance. Appl Physiol Nutr Metab. 2006;31(6):737–43.

Franch J, Madsen K, Djurhuus MS, et al. Improved running economy following intensified training correlates with reduced ventilatory demands. Med Sci Sports Exerc. 1998;30(8):1250–6.

Lake MJ, Cavanagh PR. Six weeks of training does not change running mechanics or improve running economy. Med Sci Sports Exerc. 1996;28(7):860–9.

Silva R, Damasceno M, Cruz R, Silva-Cavalcante MD, Lima-Silva AE, Bishop DJ, Bertuzzi R. Effects of a 4 week hight-intensity interval training on pacing during 5-km running trial. Brazilian Journal of Medical and Biological Research (2017) 50(12): e6335.

Slawinski J, Demarle A, Koralsztein JP, et al. Effect of supralactate threshold training on the relationship between mechanical stride descriptors and aerobic energy cost in trained runners. Arch Physiol Biochem. 2001;109(2):110–6.

Smith TP, McNaughton LR, Marshall KJ. Effects of 4-week training using Vmax/Tmax on VO2max and performance in athletes. Med Sci Sports Exerc. 1999;31(6):892–6.

Yoshida T, Udo M, Chida M, et al. Specificity of physiological adaptation to endurance training in distance runners and competitive walkers. Eur J Appl Physiol. 1990;61(3–4):197–201.



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