segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

VOCÊ SE CONSIDERA UM CORREDOR DE PERFORMANCE OU RECREACIONAL?

      Como você se classifica, como um corredor de performance ou corredor recreacional? Quais parâmetros você leva em consideração para se classificar? 

      Muitas vezes é difícil obter este tipo de resposta, pois como já temos demonstrado em nossos posts, a complexidade deste mundo da corrida é elevada. Aqui neste espaço  consideramos os detalhes de performance ligados somente à aspectos da fisiologia e biomecânica, sem considerar outras áreas, portanto percebe-se que muitos pontos devem ser levados em consideração, além dos abordados neste blog. 

      Mas como gostamos de analisar a corrida mais à fundo buscando suas minucias para não apresentar a mesmice sobre a corrida, trazemos um artigo de Clermont e colaboradores (2018) cujo o objetivo foi classificar corredores e corredoras através de dados obtidos por equipamentos vestíveis (wearable technology) denominados de acelerômetros. Estes equipamentos, estão disponíveis em nossos celulares, computadores, tablets, mas também em alguns equipamentos direcionados ao publico da corrida. Eles podem nos oferecer uma série de parâmetros, e são estes a ser considerados para a classificação dos corredores(as) neste trabalho a ser apresentado. A grande vantagem é que estes parâmetros podem ser obtidos no mundo real, ou seja, no ambiente de treino e competição. 



        Em postagens anteriores já demonstramos o quanto a variável Centro de Massa (CM) é importante para a análise da técnica da corrida através da observação da Oscilação Vertical (A FORMA COMO SE CORRE (TÉCNICA) É TÃO IMPORTANTE PARA A ECONOMIA DE CORRIDA E A PERFORMANCE?  QUALQUER UM PODE CORRER COMO OS MARATONISTAS DE ALTA PERFORMANCE?) e aqui ela será novamente algo a ser considerado, mas agora através de medidas por equipamentos mais simples (acelerômetros). 

       Primeiramente 25 homens e 16 mulheres foram classificados  como competitivos ou recreacionais levando-se em consideração a idade, sexo e performance na corrida através de uma calculadora da USA Track and Field. Esta classificação se baseia no recorde mundial para a distância, sendo uma razão entre o tempo do atleta e o recorde existente para o sexo e faixa etária, tendo como dado final uma porcentagem. Aqui os autores classificaram como corredores competitivos (CC) os indivíduos com índice superior a 60% e como recreacional (CR) abaixo deste índice. 

Tabela 1 - Algumas características dos(as) corredores(as)
        Estes corredores(as) foram analisados em 5 minutos de corrida em esteira, em velocidade auto selecionada, com o acelerômetro fixado entre L3 e L5, através de cinto elásticos para não deixar balançá-lo durante a corrida. Um total de 24 variáveis foram obtidas do acelerômetro: Coeficientes de variação (desvio padrão / média x 100%) para o passo e passada. Regularidade, simetria e o pico de aceleração das ondas do acelerômetro nas direções mediolateral, vertical e anteroposterior. 



         Das 24 variáveis estudadas em ambos os sexos, 12 delas foram o suficiente para classificar os corredores entre competidores e recreacionais com 82,63% de acurácia. Já para as mulheres somente 10 variáveis foram necessárias para uma acurácia de 80,4%. Isto destaca a importância de classificação do corredor baseado na performance e treinamento para melhor refletir as diferenças cinemáticas entre homens e mulheres. 

       Corredores(as) competitivos demonstram mais consistência nos seus padrões de corrida em termos de regularidade e variabilidade. Parâmetros relacionados à simetria e ao pico de aceleração não foram tão consistentes para identificar diferenças entre competidores e recreacionais. 



         Para os corredores, a  razão para estes resultados foi justificada, através da citação de outros estudos, onde a maior regularidade na direção anteroposterior pode estar associada com mais consistência na desaceleração e aceleração do CM durante as fases de frenagem e propulsão, respectivamente, e isso pode ser exemplificado através de melhor economia de corrida em um perfil de corredor de elite. Os autores ainda destacam uma padrão mais suave de corrida nos corredores competitivos, sendo este um padrão mais seguro pela diminuição do impacto total durante a fase de frenagem de cada passo, e é claro, pela menor indução de fadiga durante a corrida. 

          Uma maior consistência no padrão de movimentos na direção mediolateral pode ser decorrente da melhora no equilíbrio geral e do tronco, correspondendo com uma redução da variabilidade na movimentação dos membros inferiores nesta direção e um padrão de movimento mais eficiente. 

       Caracterizando o corredor recreacional por uma maior variabilidade na direção mediolateral e menor regularidade na anteroposterior para a movimentação do CM tem sido associado a um padrão de corrida "de risco". Isso explicaria porque mais corredores recreacionais tem demonstrado mais lesões durante o acompanhamento durante um ano, comparado a corredores competitivos, encontrado em outro estudo citado pelos autores. 


         Já as corredoras tiveram como característica as variáveis relacionadas à regularidade e variabilidade, mas nas direções vertical e anteroposterior, respectivamente. Corredoras competitivas demonstraram maior regularidade na direção vertical e menor variabilidade na direção anteroposterior. 

        Para melhor entendimento da aplicação da coleta de dados através  de acelerômetros os autores destacam, através da citação de outros estudos, se um corredor recreacional começa a apresentar uma padrão de corrida semelhante ao corredor competitivo, este é um indicativo que as adaptações ao treinamento foram benéficas, levando a uma melhor performance na corrida e potencialmente diminuindo o risco de lesões. 

       Por outro lado, se um corredor competitivo começa a apresentar uma padrão de corrida semelhante ao corredor recreacional, isto pode ser um preditor de decréscimo de performance e aumento do risco de lesões, principalmente em joelho ou quadril. 

         Portanto é de vital importância acompanhar a sua forma de corrida para saber em que momento seu treinamento pode evoluir para um patamar superior em termos de busca por performance, ou terá que ser reduzido para poder voltar a um padrão mais eficiente, utilizando para isso os acelerômetros. 

 Referências Bibliográficas: 

Christian A. Clermont, Lauren C. Benson, Sean T. Osis, Dylan Kobsar & Reed Ferber (2018): Running patterns for male and female competitive and recreational runners based on accelerometer data. Journal of Sports Sciences.


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