terça-feira, 26 de novembro de 2019

UMA CONDIÇÃO DE PASSO ASSIMÉTRICA AFETA A ECONOMIA DE CORRIDA?

Muitas vezes, ao vermos uma pessoa correndo, podemos ter a impressão de que ela esteja mancando. Esta impressão é porque notamos que existe uma assimetria na forma como a pessoa corre. Esta assimetria nada mais é que uma diferenciação no tempo de cada passo  entre o pé direito e esquerdo. 

Existem situações em que a avaliação da forma como se pisa leva-se em consideração somente um dos membros, adotando a ideia da simetria entre eles, considerando-se que o movimento feito por um lado de nosso corpo  terá a mesma qualidade comparado ao outro membro não avaliado. Isso acontece por nos considerarmos completamente simétricos. Somente para se ter uma ideia em termos de pisada, Larson e colaboradores demonstraram que entre os corredores recreacionais e sub elite de uma prova de 21/42 km,  5,9% dos corredores  tinham assimetria na forma de pisar, ou seja, cada pé pisava de uma forma diferente. Era um percentual maior que os indivíduos que corriam com antepé, 1,8% com ambos os pés. 

Destacamos aqui uma assimetria bem visível. E assimetrias em que não identificamos visualmente? Quais as consequências para a nossa corrida? Será que gastamos mais energia? 



Beck e colaboradores (2018) propuseram determinar como uma corrida biomecanicamente assimetrica afeta a taxa metabólica em indivíduos sem alterações que pudessem provocar esta assimetria. 

Segundo os autores, indivíduos sem lesões adotam, naturalmente, um tempo de contato para minimizar  o seu gasto metabólico durante a corrida. A redução do tempo de contato requer músculos que possam gerar força e sustentar o peso corporal quando em contato com o solo, utilizando energia para isto. Com uma alteração do tempo de contato, e consequentemente, de capacidade elástica do músculo, altera-se também a taxa metabólica. 

Para verificar como a assimetria pode afetar o gasto energético 10 corredores (6 homens) correram em esteira instrumentada com plataforma de força, a  10 km/h, por 7 séries de 12 minutos com 5 minutos de descanso entre as séries. Cada série era feita ouvindo-se um metrônomo customizado através de programação, para que pudesse provocar assimetria entre os passos. O passo foi considerado como o tempo de contato mais o tempo de voo até o contato do próximo pé. A primeira tentativa foi para determinar qual o membro inferior predominante, a segunda e terceira para a ambientação com o uso do metrônomo em condição assimétrica e simétrica. À partir da quarta até a sétima série correu-se com o metrônomo nas condições com 0%, 7%, 14% e 21% de assimetria entre os membros, mas de forma aleatória. 



Nestas corridas foram medidas a força de reação do solo (FRS) e variaveis metabólicas através da medição de consumo de oxigênio e a assimetria foi calculada através de uma fórmula. 

Como resultado, os autores afirmam que: 
-  para cada 10% de aumento da assimetria do tempo do passo, o consumo metabólico aumentou em 3,5%; 
- para cada 10% de aumento da assimetria do tempo de contato, o metabolismo aumentou em 7,8%; 
- para cada 10% de aumento da assimetria da média da FRS no apoio, houve um aumento de 3,5% no metabolismo;
- para cada 10% de aumento da assimetria  no pico de frenagem, foi provocado um aumento de 1,3% no metabolismo; 
- para cada 10% de aumento da assimetria no pico propulsivo, houve um aumento de 2% no metabolismo; 
- para cada 10% de aumento da assimetria da rigidez do membro inferior, foi provocado um aumento de 3,9% no metabolismo; 
- para cada 10% de aumento na assimetria do trabalho mecânico externo positivo e negativo, um aumento de 1,1% e 0,9% no metabolismo, respectivamente; 
- e finalmente, uma assimetria no pico da FRS não afetou o metabolismo. 


Estes resultados confirma a hipótese dos autores de que a assimetria na passada faz com que os corredores gastem mais energia para correr a mesma distância, na mesma intensidade. Justificando os achados, os autores afirmam que os corredores participantes do estudo obtiveram um tempo de passada assimétrica pela modulação de sua força no solo, conforme visto no gráfico à seguir. 

Figura 1 - Relação entre o índice de simetria da Média da Força de Reação do solo (FRS) vertical e o índice de simetria do  tempo de passo

Para que isso acontecesse, o tempo de contato com o chão foi mantido, e a diferença encontrasse no tempo da fase aérea entre os membros inferiores. Por este motivo que nos parece que o indivíduo está mancando. Uma diferença na fase aérea, neste caso é provocada por uma maior força de um dos membros fazendo com que tenha um tempo de voo maior que o lado contrário. Isso gera um maior trabalho mecânico positivo, e consequentemente, maior gasto energético.  Somente para se ter uma ideia, uma assimetria no tempo da passada de 31,3% provocou uma aumento de 210% no trabalho mecânico dos passos mais lentos em relação aos mais curtos. 

Isto acontece pois há uma redução do uso da energia elástica no membro inferior cujo o passo é mais lento, havendo a necessidade de maior trabalho mecânico positivo para compensar a não utilização dos componentes elásticos, o que ocorre no membro cujo o passo é mais rápido. Isso explica o porque uma corrida assimetria acaba gerando uma maior gasto energético. 



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Larson, P., Higgins, E., Kaminski, J., Decker, T., Preble, J., Lyons, D., ... & Normile, A. (2011). Foot strike patterns of recreational and sub-elite runners in a long-distance road race. Journal of sports sciences29(15), 1665-1673.

Beck, O. N., Azua, E. N., & Grabowski, A. M. (2018). Step time asymmetry increases metabolic energy expenditure during running. European journal of applied physiology118(10), 2147-2154.




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