terça-feira, 3 de março de 2020

FALANDO SOBRE A PRONAÇÃO.

     A escolha dos tênis sempre foi uma grande duvida para a maioria dos corredores. Critérios como amortecimento, conforto, controle de movimento, leveza, flexibilidade ou ventilação sempre são considerados na compra de um calçado e o critério predominante depende da maior demanda de cada corredor. Ou seja, a escolha acaba sendo muito pessoal. Neste primeiro texto abordaremos sobre o movimento de pronação e, posteriormente, sobre o papel dos tênis neste movimento. 

    Um fator de extrema importância do ponto de vista da biomecânica da corrida é a questão da movimentação do pés durante seu contato com o solo. Um dos movimentos muito abordados nas publicações e por pesquisadores é a pronação. Este movimento, a grosso modo, é a rotação do pé para dentro (mais especificamente, uma inversão, somada a uma abdução do pé, no momento do contato com o solo). 




   Este movimento depende da condição de dorsiflexão do pé, da carga no tornozelo, da utilização das articulações envolvidas e da integridade dos ligamentos (Hintermann e Nigg, 1998). Ainda acrescentaria outro fator como a força da musculatura intrínseca e extrínseca do pé (Zhang e colaboradores, 2019). 

    A pronação talvez seja o nosso primeiro amortecedor quando efetuamos o contato com o solo, pois é a primeira oportunidade que nosso organismo tem de utilizar força muscular para iniciar a atenuação do impacto. A utilização do arco medial longitudinal através do controle de seu rebaixamento pelos músculos permite esse primeiro amortecimento. Sendo assim, uma condição de falta de força na musculatura do pé, e uma postura já rebaixada do arco, diminuem a possibilidade de utilização deste primeiro amortecedor. 




   Apesar de ultimamente alguns especialistas dizerem que a pronação não está diretamente ligada a lesões nos membros inferiores de corredores, um recente estudo demonstrou o contrário com uma metanálise, demonstrando que existe a relação da pronação excessiva com algumas tendinopatias características do corredor ( Sindrome do trato íliotibial, tendinite patelar e disfunção do tendão do tibial posterior) (Mousavi e colaboradores, 2019). 

    Existe um outro fator de influencia da pronação sobre um outro importante movimento, no inicio da pisada: a rotação interna da tíbia. Esse é mais um movimento visando a atenuação de impacto que segue pelo corpo para que seja atenuado até chegar à cabeça. Aliás, o organismo tem a capacidade de, independente da velocidade de corrida, atenuar o impacto desde o pé até a cabeça, fazendo com o impacto no cérebro seja por volta de 1G (1 vez a força da gravidade) (Voloshin, 2016). 

   Assim, a não ocorrência da pronação, seja por um pé plano ou um pé cavo, ou qualquer outra causa, impossibilita a correta sincronia de movimentos entre pé, tornozelo e tíbia. Isso sobrecarrega estruturas superiores, aumentando a quantidade de impacto recebido por elas, pois na cabeça sempre chegará somente o equivalente a 1 vez a força da gravidade. Por isso, o movimento de pronação é de grande importância, mas desde que ocorra de uma forma controlada e continua durante a fase de amortecimento da pisada. 

       E o calçado pode influenciar na pronação? De forma positiva ou negativa? Bom isto discutiremos em nosso próximo post. Aguarde!!!


Referências Bibliográficas: 

Hintermann, B., & Nigg, B. M. (1998). Pronation in runners. Sports Medicine26(3), 169-176.

Mousavi, S. H., Hijmans, J. M., Rajabi, R., Diercks, R., Zwerver, J., & van der Worp, H. (2019). Kinematic risk factors for lower limb tendinopathy in distance runners: a systematic review and meta-analysis. Gait & posture69, 13-24.

Voloshin, A., 2016. How human musculoskeletal system deals with the heel strike initiated impact waves. Advances in Life Science and Medicine 02 (03), 01-09.

Zhang, X., Pauel, R., Deschamps, K., Jonkers, I., & Vanwanseele, B. (2019). Differences in foot muscle morphology and foot kinematics between symptomatic and asymptomatic pronated feet. Scandinavian journal of medicine & science in sports29(11), 1766-1773.

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