Todos sabemos
que não somos totalmente simétricos. Sempre existe alguma diferença entre as
estruturas em pares de nosso corpo. Aliás, muito se fala que a beleza de um
corpo se dá exatamente pela simetria existente entre as estruturas. E dentro da
funcionalidade de nossas estruturas, como estas assimetrias podem nos afetar em
termos estáticos e dinâmicos? E ainda mais, como esta assimetria afetará
músculos, ossos e articulações em uma condição de fadiga? Pode haver uma
potencialização de problemas quando estamos cansados?
Pensando nisso,
Radzak e colaboradores (2018) pesquisaram exatamente o efeito de nossas
assimetrias na corrida em condições com e sem fadiga, acreditando que a
condição de cansaço possa potencializar ainda mais as diferenças existentes
entre os membros inferiores (MMII) a a consequência disso possa ser o aumento
da possibilidade de lesão.
A pesquisa foi
realizada com 20 jovens saudáveis, sendo 6 mulheres, sendo levantados dados
cinéticos e cinemáticos (Análise 3D) da marcha e corrida descansados, e da
corrida em estado de fadiga. Todos correram em uma pista de 18 metros sendo
filmados com câmeras infravermelho, e tendo coletadas a força com que tocavam
seus pés ao solo.
Das 33
variáveis cinéticas e cinemáticas, somente 1 não apresentou diferença entre os
membros na condição descansada. Estes resultados caracterizam a amostra como
apresentando assimetria entre os membros inferiores antes de colocá-los sob a
condição de fadiga. Já sob esta condição, 30 variáveis apresentaram diferença
estatística entre os membros.
Já a comparação
entre a condição descansada e cansada os autores utilizaram uma relação angular
definida em outro estudo citado pelos autores, utilizando uma razão entre o
valor obtido para cada variável do MMII esquerdo e do direito. Quando este
valor é mais próximo de O (zero), mais simétrico é o movimento.
Tabela 1 - Diferenças naos angulos de simetria entre a condição sem fadiga (rested) e com fadiga . |
Neste
estudo, a fadiga provocou a diminuição em 34% da assimetria da complacência do
MMII (Stiffness - Kvert) mas o aumento dos valores absolutos desta variável; a diminuição da assimetria na taxa de impacto (loading
rate) em 35%, e também da assimetria do pico da força de frenagem(free moment
at peak breaking force) em 36%, e aumentou em 91% a assimetria da excursão da
rotação interna do joelho (knee internal rotation excursion).
Com relação a
complacência e a taxa de impacto dos MMII, os autores afirmam que o aumento
desta variável corresponde a um aumento significante na força vertical da
reação do solo e da taxa de carga, indicando uma rápida transferência de força.
A diminuição desta variável corresponde ao aumento do tempo de apoio atrasando
o momento do pico da força vertical da reação do solo.
Quando se
observa os resultados relativos ao joelho mais especificamente quanto à sua
rigidez e a sua rotação interna, verifica-se que o joelho esquerdo teve estas
variáveis diminuídas após os atletas serem avaliados em condição de fadiga, não
acontecendo o mesmo com o esquerdo. Os autores tentam explicar esta diferença
levando em consideração a questão da dominância de membros, mas não conseguem
concluir nada à respeito já que a literatura sobre a questão não tem um
posicionamento concreto.
Segundo os
autores, algumas lesões como fratura de stress tibial, lesões por overuse e osteoartrite no joelho, estão associadas a
algumas das variáveis aqui analisadas como loading rate e o momento de adução; a máxima velocidade na adução do joelho e
excursão da rotação interna do joelho; e momento de adução no joelho e
velocidade de joelho varo, respectivamente. Apesar de trabalharem com somente indivíduos
saudáveis propõem o acompanhamento destes corredores ao longo do tempo, no
intuito de verificar o comportamento destas variáveis a longo prazo e suas
consequências ao organismo do corredor.
Resumindo, muitas
das variáveis previamente associadas com lesões nos MMII foram encontradas como
assimétricas na condição descansada e sob fadiga. A magnitude da assimetria em algumas
variáveis diminuiu com a fadiga, outras tornaram-se mais assimétricas e o
joelho parece ser a região mais suscetível ao aumento da magnitude das
assimetrias.
Referência Bibliográfica:
Radzak, K. N., Putnam, A. M., Tamura, K., Hetzler, R. K., & Stickley, C. D. (2017). Asymmetry between lower limbs during rested and fatigued state running gait in healthy individuals. Gait & posture, 51, 268-274.
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